Pesquisadores da UFRJ conseguem devolver movimentos a ratos paraplégicos com injeção de proteína extraída de placenta humana
Uma proteína presente em diferentes tecidos do corpo humano, entre eles a placenta, pode representar uma nova perspectiva para pacientes com lesões medulares. Pesquisadores do Instituto de Ci ên cias Biomédicas da Univer si da de Fe deral do Rio de Janeiro (UFRJ) con seguiram devolver mo vi men tos a ratos paraplégicos a par tir da injeção de laminina polimerizada diretamente na medula es pinhal. A proteína mostrou ter ação anti-inflamatória e regenerativa.
A descoberta representa uma nova esperança no tratamento de lesões medulares, já que hoje não existe nenhum tratamento capaz de restaurar as conexões neuronais entre o cérebro e a medula em casos de lesão. De acordo com a pesquisadora Karla Menezes, do laboratório de biologia da matriz extracelular, onde foi conduzido o estudo, a laminina é encontrada na parte externa das células e tem, entre outras coisas, a função de induzir o crescimento neuronal. “Não sabemos ao certo porque, mas uma pessoa que sofre lesão na medula tem a produção dessa proteína prejudicada”, explica. O que fizeram os pesquisadores foi criar em laboratório polímeros (cadeias) da proteína em solução ácida. Eles descobriram que o pH ácido estabiliza a polimerização da laminina, fazendo com que as moléculas formem uma rede. A laminina polimerizada foi então injetada na me dula espinhal das cobaias que haviam sido submetidas a lesões de diferentes graus. Os resultados impressionam. Após al gumas se ma nas, os ratos com le sões leves ob tiveram uma me lhora equivalente à de uma pessoa sair da cadeira de rodas para caminhar com ben galas. Nos casos de lesões graves, também percebeu-se maior controle sobre os membros no que diz respeito a força, equilíbrio e mo vimentos. Para o estudo, as in jeções na medula espinhal fo ram feitas entre 30 minutos e dez dias depois da ocorrência da lesão. “É um tratamento para lesões agudas. Para pacientes que já têm a le são há algum tempo ainda não sabemos se os efeitos são os mesmos.”
Segundo a pesquisadora, as lesões na medula normalmente geram uma resposta inflamatória exagerada do organismo. Após a lesão, há o comprometimento dos axônios – fios elétricos presos aos neurônios que conduzem as informações do cérebro para o resto do corpo. O que a terapia com a laminina é capaz de fazer é diminuir a inflamação e preservar os axônios da degeneração, estimulando a sua regeneração.
Para ela, a descoberta representa uma nova perspectiva. “É uma alternativa de tratamento a partir de uma proteína existente no próprio corpo, que já foi testada em tratamentos para outros tipos de lesões, como lesões cutâneas por exemplo, e não oferece rejeição, não é tóxica e tem riscos mínimos para o paciente”, afirma. Além disso, o processo de polimerização em laboratório teria um custo aproximado de apenas US$ 100.
O próximo passo será tratar animais de maior porte, como cachorros. Além disso, os pesquisadores já submeteram o pedido de autorização para estudo clínico ao Comi tê Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e esperam que até o fim do ano possam iniciar os testes com pa cientes humanos. “A ideia é dar continuidade às pesquisas e tentar combinar o tratamento com outras terapias envolvendo células-tronco.”