Centro de recuperação traz esperança para que vítimas de lesão medular voltem a andar
Duas tragédias semelhantes uniram Fernanda Fontenele, de 23 anos, e Felipe Costa, 22. Ambos sofreram acidente de carro e tiveram lesão na medula espinhal – órgão responsável pela comunicação entre o cérebro e os membros – e tiveram que aprender a viver sobre cadeiras de rodas. Porém, os dois lutaram para reverter a situação e voltar a ter uma vida independente. Foi então que a história deles começou a se encontrar.
Felipe, morador de Alphaville, buscou inúmeros tratamentos para recuperar os movimentos das pernas. Chegou a passar quatro meses em Detroit, mas foi na Califórnia, também nos Estados Unidos, que ele descobriu o método que, segundo ele, mais lhe trouxe resultados.
O Método Dardzinski, desenvolvido no instituto Project Walk, foi criado há cerca de dez anos, com o objetivo de fazer com que pacientes com lesão medular possam voltar a andar. “É muito motivador, acima de tudo. Eles buscam o nosso limite, com sessões de exercícios intensivos e repetitivos durante três horas por dia”, avalia Felipe, que ficou um ano nos Estados Unidos e conseguiu recuperar parte dos movimentos e da sensibilidade das pernas.
Nesse mesmo período, ele conheceu Fernanda pela internet. Ela, moradora de Brasília, embarcou para a Califórnia após realizar uma campanha com a ajuda de amigos para arrecadar dinheiro e conseguir fazer o tratamento no mesmo local, onde se conheceram pessoalmente e começaram a namorar.
Fernanda participou do Project Walk por nove meses, e também garante que colheu resultados significativos. “Quando eu fui para os EUA, já tinha recuperado os movimentos dos braços, mas o equilíbrio de tronco, que é essencial, eu não tinha. Também não movimentava as pernas. Lá eu recuperei bastante coisa. Já consigo ficar em pé e o equilíbrio está muito melhor”, relembra.
Com o progresso que puderam sentir durante o tratamento, Felipe e Fernanda tiveram a ideia de criar o Acreditando, uma franquia do Project Walk para trazer o método ao Brasil, a fim de aprimorarem a si mesmos e também oferecer o tratamento àqueles que não podem bancar as despesas de uma viagem ao exterior. “Nós sabemos que se tivéssemos ficado mais tempo lá, com certeza voltaríamos a andar”, explica Fernanda. “Não ficamos mais porque o tratamento é muito caro”, completa.
A clínica vai funcionar no bairro do Butantã, em São Paulo, a partir de novembro. Uma equipe de profissionais irá para os Estados Unidos participar de um treinamento para poder abrir a franquia do Project Walk no Brasil. Eles calculam que o custo de uma hora de sessão deva reduzir dos atuais US$ 100 – cobrados no exterior – para cerca de R$100 no novo centro. Como o tratamento prevê três horas diárias, cinco vezes por semana, o investimento cairá de R$ 11 mil para aproximadamente R$ 6 mil por mês. “Sem contar que se a pessoa morar em São Paulo, não terá despesas com hospedagem, alimentação, passagem etc”, lembra Felipe.
Porém, ele alerta que o atendimento prestado no Project Walk corresponde a apenas 50% do resultado que o paciente pode atingir. “Vamos oferecer os profissionais qualificados, equipamentos e toda a estrutura necessária, mas isso não vale nada se a pessoa chegar lá e não der o máximo de si”, explica. “Antes de tudo, é preciso acreditar.”
Tanto Felipe quanto Fernanda se mostram entusiasmados com o empreendimento que estão iniciando. E garantem que a procura já é grande. “Fizemos divulgação em diversas redes sociais e muita gente está entrando em contato”, conta Fernanda. “Nós mesmos seremos nossos primeiros pacientes”, brinca Felipe.
Mãe funda ONG para oferecer ajuda
A psicóloga Juliana Costa, 47, sentiu na pele a angústia de uma família que tem um de seus membros envolvido em uma tragédia que o faça perder os movimentos. Mãe de Felipe, foi ela quem o acompanhou em boa parte do tempo em que ele ficou nos Estados Unidos.
Agora, com a implantação do Project Walk no Brasil, ela está fundando a ONG Novo Andar para levar esperança de voltar a andar às pessoas que sofreram lesão medular. “Mesmo pelo valor que será cobrado aqui, mais barato que no exterior, tem muita gente que quer fazer o tratamento, mas não tem dinheiro”, avalia.
Juliana, que atualmente trabalha em uma empresa de informática, pretende organizar eventos para arrecadar fundos e financiar o atendimento dessas pessoas. “Vou deixar minha carreira para me dedicar a isso”, garante.